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terça-feira, 19 de abril de 2011


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Se não achou drástico o suficiente, pense na couve. A couve, a couve-flor, a couve-de-bruxelas, o repolho, o repolho roxo, o brócoli, o brócoli romanesco e varios outros tipos de couve e de brócoli são todos variantes de uma mesma plantinha, a mostarda selvagem.Que inclusive é próxima dos diferentes tipos de mostarda que conhecemos, e do nabo. Todas essas variedades foram criadas pelos seres humanos, cada hora em busca de uma característica, folhas maiores na couve, flores no caso da couve-flor e por aí vai. E garanto que os híbridos (cruzamentos entre as variedades) e intermediários que deram origem às variedades não são nada agradáveis de se ver.
Pior ainda são os alimentos que crescem com enxerto, a laranja por exemplo. A laranja que usamos para fazer suco foi selecionada por ter um fruto bom, e não por crescer bem. Para acelerar o crescimento, corta-se um galho de um pé de laranja com um fruto com, e ele é preso ao tronco de uma laranjeira selvagem, que embora dê frutos ruins, cresce muito bem e é resistente. Com isso, a metade de baixo da planta cresce bem e nutre a metade de cima, que dá bons frutos.
O cacto que você viu lá no alto é um exemplo de enxertia. A parte vermelha da planta não possui clorofila, e só cresce por ser enxertada na parte de baixo, fotossintetizante, que nutre ela. Confira aqui como é feito.
Pois bem, uma pesquisa recente mostrou que ambas as plantas de um enxerto trocam genes entre si. Genes do núcleo e de outra parte da célula, o cloroplasto, responsável pela fotossíntese da planta. Logo, toda planta enxertada, maçã, orquídeas, laranja, batata, tomate, caqui, pepino, berinjela, melancia e muitas outras, são OGMs. Vou repetir em negrito para os destraídos. Toda planta enxertada é geneticamente modificada! [2]
Ao contrário dos OGMs produzidos em laboratório, tais plantas não passam por nenhum teste, não são planejadas e não se faz idéia de que parte de qual genoma foi parar onde. E antes que você me diga que estamos misturando plantas próximas, ao invés de uma toxina por exemplo, digo duas coisas. Primeiro, no OGM são um ou dois genes inseridos na planta, mesmo porque ainda não temos técnicas refinadas o suficiente para mais. Segundo e mais importante, plantas já contém toxinas, por exemplo, a maçã produz açúcares capazes de liberar cianureto quando digeridos pela barata (morte certa), enquanto nossa digestão não produz esse veneno - e olha que não é qualquer coisa que mata uma barata.

Por que alimentos orgânicos não são a solução?
Antes de tudo, que fique claro: como os alimentos orgânicos são cultivados com adubo orgânico (estrume, o que inclusive requer um cuidado maior na hora de lavar a salada), costumam ser mais ricos em vitaminas e minerais. Se você tem dinheiro para comprá-los, são uma boa opção, até hamsters preferem.

Mas (e é um grande mas) eles são totalmente impraticáveis em uma escala mundial. O que permitiu e ainda permite o crescimento populacional recente é justamente a revolução agrícola, com máquinas, fertilizantes e agrotóxicos artificiais e a seleção de variedades. Orgânicos são mais caros pois custam mais para serem produzidos. Requerem muito mais cuidado com pragas, no manejo, na adubação. A produtividade é menor, bem  como a escalabilidade do processo.

E não, por favor não tente o argumento de que não temos um problema de falta de produção, mas sim de distribuição. Primeiro, se a produção atual é suficiente, ela é suficiente para a população atual, que tende a aumentar, e aí surge a dúvida, aumentamos a produtividade ou a área plantada. Segundo, a distribuição é desigual porque existem países mais ricos do que outros, com pessoas com mais alimento e pessoas com menos alimento. Se você acredita que o problema está na distribuição, você acredita que, por exemplo, um americano vai topar comer menos, para que um nigeriano possa comer mais. Isso não vai acontecer.

Nessa demanda por mais alimentos, as variedades mais produtivas, OGMs ou não, vão ser as mais cultivadas. Por poucas empresas, em um monopólio agrícola? Sim. Variedades que podem favorecer a agressão ambiental, por suportarem mais herbicidas, por exemplo? Sim. Acabando com a agricultura familiar, dando chance apenas para quem tem condições de comprar máquinas caríssimas, que tomam o posto de trabalho de milhares de pessoas? Sim.

E nesse contexto, quem for privilegiado e puder comprar alimentos orgânicos vai estar muito bem servido. Onde há demanda há produção, e o mercado de comida cultivada de forma mais "natural" deve crescer. Mas a grande maioria não pode entrar em um Pão de Açúcar e comprar uma cenoura orgânica. Ainda mais no Brasil.

Se não investirmos em tecnologia, desenvolvermos OGMs mais produtivos, estaremos à mercê de quem o fizer. E atacar a tecnologia de transgenia por causa de uma empresa como a Monsanto é como dizer que as pessoas não devem tomar remédios por causa da farmacêutica X ou Y.

Aliás, fica aqui uma boa dica. Para quem quer entrar de cabeça na onda de produtos naturais, tente comer um morango selvagem, cozinhar o teosinto, ou domar (e ordenhar) um auroque. São todos produtos muito naturais, não sofreram modificação nenhuma. Do contrário, direta ou indiretamente, você está comendo um alimento geneticamente modificado.

Update importante: Uma coisa não invalida outras. Acho que vamos ter que desenvolver alimentos mais produtivos, mas nada impede de se aplicar neles técnicas que sejam menos agressivas ao ambiente, como controle biológico e rotação de culturas. Quero dizer que não dá para abrir mão das técnicas mais recentes como transgenia e plantio em larga escala.

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